terça-feira, 30 de setembro de 2008

Os esquecidos

30 de março acordamos com a notícia nos jornais de que uma menina de cinco anos havia caído de um prédio em São Paulo na noite anterior. O caso mais tarde ia se transformar e revelar as cenas de um crime que chocou a sociedade. O pai e a madrasta de Isabella Nardoni são os principais suspeitos em jogar a menina pela janela do sexto andar. Durante semanas, a mídia só soube falar desse crime. Foram entrevistas “exclusivas” com a mãe de Isabella e com os principais suspeitos. Isso me fez lembrar do filme “Assassinos por natureza”, onde criminosos viram celebridade.

Depois da máxima exploração, seis meses se passaram e quem sabe o que aconteceu com o casal suspeito? E com o avô paterno que também estava sendo acusado de ter modificado o local do crime? Parece que no Brasil as coisas têm prazo de validade. Casos como o de Isabella são esquecidos, mas isso não muda a realidade do país. O problema é quando a mídia revela esquemas como o do Mensalão e tudo acaba no esquecimento. A notícia também tem prazo de validade.

Alguém aí lembra dos policiais que se envolveram com a morte de três jovens no Morro da Providência, no Rio de Janeiro? Foi capa de vários jornais, inclusive dos internacionais. O papel da mídia é esse mesmo: noticiar... Cabe a sociedade cobrar as respostas. Ainda não dá para esperar um Brasil diferente. Por quê? “Prefiro não comentar”.

A memória é tão curta que o atual governador do Distrito Federal foi um dos senadores que estavam envolvidos na confusão da votação que cassou o ex-senador Luiz Estevão. Entre lágrimas, ao renunciar, ele disse: "Não é o fim, mas um novo começo". (Aspas retiradas da matéria “Arruda renuncia ao mandato de senador” – Folha de São Paulo, 24 de maio de 2001).

Realmente, foi um novo começo. De senador a governador. Quantos mais serão e deverão ser esquecidos?

2 comentários:

Gabriela Matarazzo disse...

Mari, acredita q ia postar sobre isso tbm?
Até parece criança qdo ganha um brinquedo. Anda com o brinquedo pra cima e pra baixo, aí é só surgir outro mais interessante, q o brinquedo antes tão legal, é agora jogado no canto do quarto.
Depois do caso de Isabella vimos outras matérias "piores", como o bebê q foi salvo pela fralda, o pai q abusava da filha e da mãe q espancava a filha... são tantas coisas medíocres e podres q eu me pergunto até onde o ser humano é capaz de chegar... ou melhor, até qdo o ser humano vai ficar parado? Fatos como esses teve um início, e nós precisamos ver o fim.

Marina Amaral disse...

Às vezes, o assunto volta à mídia...

Matéria do Jornal da Globo 30.9.08:
As investigações constataram que, antes de morrer, os três jovens, Wellington Ferreira, David Wilson e Marcos Paulo Campos, foram abordados por militares do exército e presos por desacato. Eles voltavam de um baile funk no Morro da Providência.

Levados ao quartel, foram liberados pelo comandante. Mas um grupo de 11 militares não aceitou a ordem. E resolveu entregá-los a traficantes do Morro da Mineira, rivais do Morro da Providência.

Os jovens foram transportados no caminhão do exército. Os corpos com sinais de tortura apareceram no dia seguinte em um lixão.

Oito militares estão presos. E o Ministério da Defesa prometeu pagar indenização às famílias, mas o processo parou.

Um relatório sobre o crime, foi aprovado nesta terça-feira pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana.

Entre outras coisas, pede ao governo e ao congresso que assegurem o pagamento de indenização às famílias das vítimas, já que eles estavam sob a guarda do Exército quando foram entregues aos assassinos.

No relatório, o Conselho também pede a aprovação de uma lei para acabar com o crime de desacato. O vice-presidente do Conselho argumenta que a figura do desacato é usada de forma abusiva por policiais e militares.

“A figura do desacato caracteriza, sobretudo uma forma de intimidar as partes menos assistidas, menos aquinhoadas social e materialmente. Fica ao arbítrio e ao critério da autoridade dizer o que é ou o que não é o desacato”, declara Percílio de Sousa Lima Neto, vice-presidente do Conselho.