quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O inverso

Quando criança, a “tia” da escola era uma pessoa querida e admirada. Alguém que sabia de vários assuntos, que contava tantas histórias legais. Ela me ensinava a ler, me ensinava os nomes dos planetas... Ainda me lembro: “Minha velha traga meu jantar, sopa, uva, nozes e pão”. Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urânio, Netuno e Plutão... A “tia” mostrava as gravuras e eu e meus amiguinhos de classe berrávamos: boi, b-o-i; gato, g-a-t-o; casa, c-a-s-a; zebra, z-e-b-r-a.

Deu zebra! Parece que as crianças de hoje não têm a mesma sorte que antes. Semana passada li uma matéria no Correio Braziliense (Professores terão 14º, editoria Cidades, 12/09/08). O governador do Distrito Federal pretende sancionar a lei que dará um “incentivo extra no fim do ano aos professores, se as escolas em que trabalham alcançarem metas de melhoria na qualidade da educação”.

Incentivar os profissionais é uma iniciativa que dá resultados. O 14º salário já existe na maioria das empresas privadas, mas incentivar para cumprir o dever... isso é inverso. O professor tem a obrigação de ensinar, de ser um facilitador da educação. Se ele não cumpre esse papel, tem algo errado. Imagina, vamos oferecer o 14º para que os engenheiros construam prédios que não caiam. Queremos construções seguras. Mas isso já não é a obrigação do engenheiro?

Na classe, a “tia” também educava. Quando a gente errava alguma palavra ou letra, nós tínhamos que pagar uma prenda... “Não sabe, não sabe, vai ter que aprender...”

** Conheça as “metas de melhoria na qualidade da educação” que a escola deve cumprir:
(texto retirado da matéria Professores terão 14º - Correio, Cidades.)
- Diminuição dos índices de repetência em 20%, a partir do ano letivo de 2008;
- Elevação do desempenho individual da escola, medido a partir do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2005;
- Redução em 20% no percentual dos alunos defasados em idade x série, a partir dos dados do Censo Escolar de 2006;
- Aumento do índice de aprovação em 20% a partir do ano letivo de 2008;
- Diminuição da evasão escolar em 20% ao ano a partir do ano letivo de 2008.

2 comentários:

Yuri Achcar disse...

É, Mari... os tempos são outros. Plutão nem planeta é mais!

Felipe disse...

Eu, sinceramente, acredito que em vez de criar mais alunos aprovados, para alcançar as metas os professores e diretores vão aprovar alunos incapazes e defasados. Tipo vai rolar um pacto da mediocridade.

E eu não lembro da história dos planetas, mas lembro bem da tabele periódica, com temática mais "adolescente": "Hélio Nem Argumentou, Kravou na Xereca de Renato (He, Ne, Ag, Kr, Xe, Rn).