segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Cartinha de Natal

Raimunda deixou o interior do Maranhão. Nos últimos dois anos, ela viu o sol quadrado. “Entrou em cana” acusada de tráfico por causa de um ex-namorado. Quando teve a liberdade nas mãos, decidiu fazer tudo diferente... Chegou na capital federal para ser diarista. De segunda a sábado, Raimunda trabalhava. Nunca abriu uma gaveta para espiar o que tinham as patroas. Nunca levou uma fruta sem autorização da dona da casa. O medo de ver o sol quadrado sempre reinou em sua memória.

O Natal é a época que Raimunda mais gosta, apesar de passar em casa sozinha... Longe da família e sem um peru na ceia. Antes da meia noite, ela acende uma vela, faz uma oração e depois liga a TV na Globo. Vê o especial da noite e abre seu único presente de Natal, que chegou pelos Correios.

Todos os anos, Raimunda escreve uma cartinha para papai Noel e coloca nos Correios. A empresa já ficou conhecida pela campanha natalina. As cartas são colocadas à disposição das pessoas e cada uma que adota a cartinha dá o presente pedido. Os Correios realizam a entrega “do sonho”.

Nas cartas de Raimunda, ela sempre pede cesta básica. Ela escreve como se fosse uma criança, de 11 ou 12 anos. Os Correios só entregam o presente, nunca questionaram “cadê sua filha?” Neste ano, Raimunda decidiu fazer diferente. Pediu na cartinha uma boneca de cabelos longos. “Papai Noel, pode ser qualquer buneca bunita, eu só quero que ela tenha os cabelus cumpridos e bem bunitos...”

Foi na casa de uma de suas patroas que Raimunda aprendeu a mandar cartinhas para os Correios. A boneca de cabelo longo chegou! Raimunda nunca soube que o presente saiu das mãos de sua patroa... E a patroa nunca soube que Raimunda lia e escrevia...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Seria engraçado se não fosse trágico

No último domingo, o Fantástico apresentou uma reportagem sobre o desempenho do palhaço Tiririca nas provas de alfabetização dele. O palhaço foi submetido ao teste porque, de acordo com a Constituição Federal, para exercer cargo público, o “sujeito” não pode ser analfabeto... E Tiririca teve mais de milhão de votos para o cargo de deputado federal.

Mas hoje em dia o que é ser analfabeto? Saber escrever o próprio nome já basta? Que isso! É coisa do passado escrever o nome... Veja o caso Tiririca. O palhaço errou 8 palavras de um ditado com 10. Levou 3 minutos para ler uma frase completa. Não soube diferenciar o som do “s” nas palavras e ainda assim pode ser deputado federal, com um salário de mais de 12 mil reais por mês. Sem falar dos benefícios, né...

Tiririca não foi considerado analfabeto. O que ele seria então? Seria engraçado se não fosse trágico. Um palhaço na Câmara dos Deputados. Representando o povo, assinando projetos para o povo. Ops, no caso do Tiririca deve ser “deixando sua impressão digital”... Imagina um discurso dele no plenário da Câmara. Ler ele não vai. Já deu provas disso. Ou decora ou faz o que sempre soube fazer: palhaçada.

Talvez, ele esteja no lugar certo... Ali o que mais tem é palhaçada. Nós é que estamos no lugar errado... Carregamos nariz vermelho; mas não estamos num picadeiro!