quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Frase

"O valor da vida humana está em si mesmo, não em estatísticas. Números são bastante relativos."

Dom Antonio Augusto Dias Duarte, membro da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB, comentando a pesquisa feita pelo Ibope. Os dados da pesquisa revelam que 70,5% dos brasileiros concordam que cabe às gestantes decidirem se mantêm ou interrompem a gravidez de um feto anencéfalo.
*Frase publicada na matéria A opção é da mulher - editoria Brasil/Correio Braziliense, 28.10.08.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Ambulantes



De repente, a capital do país viu uma explosão de Shoppings Populares - espaços que concentram os vendedores ambulantes. Quem ganha uma banca, geralmente, participa de um sorteio, entrega vários documentos e de ambulante passa a micro empresário. A proposta do Shopping Popular parece ser boa; mas não é isso que a mídia mostra. As matérias revelam a insatisfação dos “empresários”.

A principal reclamação é que o espaço não atrai o público, conseqüentemente, os novos empresários perdem vendas e não conseguem “bancar” o empréstimo que fizeram com o governo para comprar a banca. Além disso, os shoppings não têm muita estrutura. Por curiosidade, eu mesma visitei dois Shoppings Populares da cidade. “Sai correndo! Que susto!” Ainda falta muita coisa para chamar o espaço de shopping e os ambulantes de “empresários”...

Por um lado, o governo tenta resolver o problema de uns... mas e o “nosso” problema, quem soluciona? A publicidade do governo é “tiramos os ambulantes das ruas!” Mas dos sinais de trânsito, não vão tirar os ambulantes e os pedintes? Os sinais estão virando novos shoppings populares. É gente vendendo água, comida, caneta, chaveiro... tem lavador de vidros, tem pedinte, tem cachorro andando no meio dos carros, pessoas em cadeira de rodas, palhaços (sem nenhuma graça)... “tem de tudo”...

Só não tem segurança para quem deseja ficar com os vidros abertos... Com esse mar de gente que vem até o seu carro te oferecer algo, ou te pedir, ou te entregar um panfleto; você nunca sabe quando a sua bolsa vai rodar e virar mercadoria...
*Foto Juliana Correa (retirada do site do IESB - www.iesb.com.br/na_pratica)

sábado, 25 de outubro de 2008

Cutucada da semana - Médico falso

Para passar pela portaria da emergência do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), os pacientes enfrentam fila e burocracia. “Se não fizer a ficha, eles não deixam entrar. Tem que identificar primeiro”, conta a aposentada Joana França.
Mas um homem, preso em flagrante enquanto se passava por médico, não teve a mesma dificuldade. Era madrugada quando Jorge Luiz Batista aproveitou a chegada de uma ambulância e entrou por uma das portarias do hospital. Ele foi até a enfermaria do Centro Obstétrico, fez perguntas a uma paciente, apagou a luz e começou a acariciá-la. A paciente chamou uma enfermeira que passava no corredor.
O falso médico saiu correndo pelo hospital até ficar preso numa ala sem saída. Ele não usava crachá e tinha apenas um carimbo de ginecologista. Jorge Luiz Batista cumpria prisão domiciliar. Foi condenado por seis crimes, entre eles, dois estupros e um atentado violento ao pudor.
À tarde, um policial militar foi deslocado para a portaria por onde Jorge Luiz Entrou. Presença que o secretário de Saúde quer que seja constante. Numa reunião com todos os diretores de hospitais, Augusto Carvalho exigiu ainda que os funcionários sejam obrigados a usar crachá. Os diretores têm dez dias para apresentar um plano de segurança.
“Temos que reconhecer que temos hoje uma área devassável. O Hospital de Sobradinho, por exemplo, não tem nem cerca nas suas imediações. É preciso cercar o Hospital de Sobradinho. O Hospital de Base tem dez portas de acesso. Cada gestor é responsável por atualizar seu plano de segurança e reduzir as entradas”, afirma o secretário.
O secretário disse ainda que vai pôr câmeras de segurança e instalar identificação digital nos hospitais.
*Matéria veiculada no jornal DFTV, 21.10.08 - www.globo.com.br/dftv

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O feiticeiro e seu amargo feitiço

Tenho certeza de que ninguém nunca conheceu um cara tão chato e tão inconveniente como Gutão. Até seu nome combina com um dos adjetivos de definição: cuzão. Se você conhece alguém chato, mas chato mesmo, você multiplica por mil. Talvez, o número será próximo da “chatice” de Gutão. Na turma, ninguém agüentava o cara. Sabe aquele lance de passar vergonha com as bobagens e maluquices que seus amigos falam. Com o Gutão é assim! E o pior é que ele se sente o palhação, o que “num ta nem aí pra nada”, que adora deixar as pessoas sem graça, sem reação...

Gutão chega em uma loja e a vendedora, geralmente bonita e bem maquiada, pergunta: posso te ajudar? Sabe o que o cara, sempre, responde? “Pode, coça meu pau!” E cai na gargalhada. E você acha que ele fala baixo... Hum, conhece alto falante de feira (?), o nível da voz dele é bem parecido. Outro dia, Gutão estava no avião e de sacanagem, coisa que ele adora, apertou o botão para chamar a aeromoça... “Senhor, o que deseja?” É, isso mesmo... Gutão respondeu: um boquete, mas também pode ser um croquete...

As atendentes de telemarketing sofrem mais com o cara. Gutão passa a tarde, o dia, o fim de semana, ligando para as centrais e dando essas respostinhas sem graça, sem conteúdo, sem noção e totalmente inconvenientes. Nessas ligações, Gutão encontrou uma mulher mais esperta que as outras e isso despertou seu interesse. “A gata” não ficou sem graça e deu-lhe um “passa-fora”. Foi o suficiente para o cara começar a sentir o coração bater mais forte.

A gata e Gutão estavam saindo direto. Já tinham até transado. O romance não apagou a chatice do cara e ele continuava com essas brincadeiras idiotas. A gata entrou no clima. Preparou uma “estranha” noite de amor. Algemou Gutão e disse: “Peraí, vou ali na cozinha buscar uns brinquedinhos”. A gata voltou com uma colher de pau. “Em rima com seu nome, sabe onde vou meter essa colher? Isso, meu bem, é uma homenagem da minha irmã, que você perturbou inúmeras vezes na Central. A coitada até demissão pediu. Mas, claro, essa brincadeirinha não é nada pra você, tão acostumado com sacanagens...”
* Crônica baseada em fatos reais. Uma amiga contou algo parecido (ou pior)... "Essa é pra você, DSM."

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O perdão



“Eu consigo perdoar o Lindemberg. Consigo perdoá-lo de todo meu coração, mas que a Justiça seja feita. Quando eu vi que ela estava naquela janela, quando eu vi aqueles panos, eu pensei que a minha filha ia sair pela janela. Eu falei: ‘Vem filha, vem. A mãe está te esperando’. E ela falou assim: ‘Calma, mãe, calma’. A polícia não teve culpa de nada. Nada, nada, porque eles lutaram como eu lutei. Eles choraram comigo como eu chorei. Eu queria que tudo terminasse bem, mas já que terminou dessa maneira, eu estou muito agradecida a todos”, declarou a mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel, em entrevista à imprensa.

E nós, brasileiros, precisamos aprender a perdoar o amadorismo da polícia, já que não adianta cobrar (por justiça e resultados). O episódio do seqüestro em Santo André provou, mais uma vez, que nossos policiais ainda não estão capacitados para lidar com situações “de alta tensão”. Desta vez, o tiro que matou a jovem refém foi dado pelo seqüestrador; mas no caso da linha 174 (que já virou filme), no Rio de Janeiro, o tiro foi dado pela polícia... que matou a refém...

É, precisamos perdoar. O perdão é mais fácil e mais rápido do que esperar por justiça e por policiais que nos dêem segurança. A gente vai conjugando o verbo perdoar enquanto a violência não bate em nossas portas, enquanto não somos vítimas do amadorismo. “Senhor, perdoai-lhes! Eles não sabem (mesmo) o que fazem...”

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O espetáculo

Durante o fim de semana, o assunto não foi outro: o seqüestro das duas jovens em Santo André, São Paulo. Opiniões sobre o comportamento do jovem seqüestrador, da atuação da polícia e do fim trágico qualquer um tinha. Principalmente, nós, jornalistas. A história chamou a atenção dos brasileiros. Por que é notícia, como a crise econômica, ou por que o povo é simplesmente curioso, como isso tudo iria terminar? A segunda opção é a mais verdadeira.

E a mídia mais esperta. Esse tipo de “notícia” aumenta, dobra e triplica a audiência. Foi o que ocorreu na última sexta-feira com o Ibope de duas emissoras que transmitiam “ao vivo” a invasão da polícia no apartamento. Audiência! Essa é a fórmula da sobrevivência dos meios de comunicação.

Mas será que vale tudo para sobreviver? Parece que a resposta é sim! Nesse espetáculo de Santo André, vimos o seqüestrador dando entrevistas durante uma tarde inteira em um programa diário de uma emissora de televisão. Depois, dois telejornais veicularam trechos de uma entrevista com o “jovem confuso”.

Por que estamos dando espaço para “criminosos”? Posso invadir uma casa, colocar duas pessoas sob a mira de uma arma e ainda parar tudo e atender ao telefone (e dar uma entrevista)... Ou seqüestrar um ônibus, alucinar, matar e ainda virar personagem de um filme? Será que isso é imparcialidade – precisamos mostrar os dois lados, ou é apenas um bom espetáculo com os atores e o público?

Notícia ou espetáculo, a definição talvez não seja importante porque sempre terão inúmeras televisões ligadas para assistir. Mas o que importa é refletir quantos jovens “confusos” não são incentivados a praticar tal ato, às vezes, por alguns dias de fama já que a mídia oferece essa oportunidade...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Cotidiano


Bob largou o interior mineiro e foi tentar a vida na capital do país. Por lá, as coisas não eram tão simples; mas eram melhores. Comprou uma moto e começou a trabalhar entregando documentos. Um dia conseguiu ser contratado por uma empresa que estava crescendo. “O que cresce, sobe. Eu fui junto”, dizia ele ao pai, explicando as coisas boas que estavam acontecendo em sua vida na capital.

Alugou um apartamento, modo de dizer. Bob estava morando em um espaço de 32 metros quadrados no Centro de Atividades do Lago Norte, espaço nobre em Brasília. A primeira coisa que comprou foi uma cama, box; mas de solteiro... “Oh Bob, fala sério!” Brincavam os outros companheiros de trabalho. Em menos de quatro meses, o motoqueiro estava com o “apê” montadinho.

Mas em todo paraíso, além da Eva e do Adão, existe a serpente. E no caso de Bob, era sua vizinha. “Oh mulherzinha maluca!” No primeiro mês, Bob não estranhou as brigas da vizinha com o namorido, uma mistura de namorado com marido... No segundo, terceiro e quarto mês, ele pensou em se jogar da janela do segundo andar. As brigas eram freqüentes e quando os outros moradores, “estressadíssimos”, resolviam entrar na confusão, virava caso de polícia.

Quebra coisa, bate porta, gritos altíssimos e palavrões que Bob nunca tinha escutado. O mocinho do interior ficava de cabelo em pé. Mas nada deixou Bob tão confortado como a última discussão. Era quinta-feira e o namorido chegava do futebol. Mal entrou em casa e a sinfonia de gritos começou. “O debate” era sempre pela carência da vizinha que precisava ser elogiada, notada, amada, admirada e tantos outros “ada”...

- Eu não falei pra você vir jantar comigo?
- Amor, era dia de futebol e eu curto tomar umas com os manos?
- Você é um idiota, filha da puta, mascarado, sacana...
- Pára de falar assim, que coisa baixa. Que drama do caralho, oh...
- Você quer uma mulher que não fale, que não cobre, que não enche o saco? A solução é só uma: uma boneca inflável. Os buracos são os mesmos...

A porta bateu. Mais uma vez, a vizinha saiu de casa. Bob olhou para caixa que ainda não tinha aberto e pensou: "acho que fiz uma boa compra!"

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Consumismo

Diante da crise econômica, a nossa preocupação é a mesma. No final das contas, como isso tudo vai pesar no bolso? A resposta veio em um e-mail de um amigo jornalista: “Não se preocupe mais!” O e-mail trazia o texto abaixo:

O ano de 2009 vai ser do consumismo. A afirmação é de um renomado economista argentino, especializado em tendências de mercado.

Con su mismo carro.
Con su mismo salário.
Con su mismo imóvel.
Con su mismo vestuário.
Con su mismo par de sapatos.
E se Deus quiser...
Con su mismo “trabajo”.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Que tecla apertar?


Espero não ser repetitiva, mas não dá para falar de outra coisa a não ser eleições. Foram matérias interessantes que li durante todo esse tempo e, ainda mais, com as revelações do primeiro turno... Você sabe que o novo vereador de Cruz das Almas, município da Bahia, vai ser um catador de papel? Isso mesmo, um catador de papel foi o candidato mais votado. Sabe que o município de Benedito Leite (MA) foi o único (ú-ni-co) a não realizar as eleições no dia 5 de outubro. Por quê? Porque lá é o povo quem manda. “Alguns rebeldes” incendiaram a ú-ni-ca seção eleitoral da cidade. Aí ficou complicado votar...

Mas complicado mesmo está a situação do eleitor brasileiro. Os primeiros obstáculos já foram superados. Escolher os candidatos e apertar a tecla verde - confirma! Em vários municípios foi confirmado o segundo turno, mas o povo está perdido. Não poderia ser diferente, as propagandas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não orientaram em nada... O básico não foi dito: o que levar no dia da votação, como justificar, quem não votou no primeiro turno deve votar no segundo? Quem não vai poder votar em nenhum dos dois, o que faz? Sapateia? Ou aperta a tecla vermelha – corrige?

Corrige o quê? As propagandas incompreensíveis do TSE ou falta de cuidado da mídia que está “pecando” em certas informações? Lúcia Hipólito, uma comentarista política, falou na semana passada na rádio CBN (
www.cbn.com.br) exatamente sobre esse tema: o eleitor não sabe o que fazer no segundo turno. Mas, será que ele soube no primeiro? A comentarista revelou que recebeu inúmeros e-mails com dúvidas sobre os procedimentos para o segundo turno. E pasmem! Ela recebeu e-mails, ou seja, pessoas que tem acesso (até demais) às informações.

É, pelo jeito, só apertando a tecla branca. Quem sabe assim essa história toda não se apaga e a gente consegue acordar desse “chato” pesadelo...

sábado, 11 de outubro de 2008

Cutucada da semana

Entra ano, sai ano, e o brasileiro ouve falar da lentidão da Justiça. O problema é de recursos? Falta organização? Falta gestão? Conheça um exemplo prático do embaraço que essa situação pode provocar: um homem morto foi julgado pela Justiça paulista.
Só em São Paulo, há 18 milhões de processos em andamento. A cada dia chegam mais. Mas, afinal, qual é o problema? Por que até um morto vai a julgamento?
Enquanto milhões de brasileiros aguardam ansiosos a uma decisão da Justiça, juízes em São Paulo e em Brasília se reuniram nos últimos meses para julgar um homem morto. Condenado por roubo e assassinato, Afonso Benedito, conhecido como o “maníaco de Higienópolis”, morreu em abril na penitenciária onde cumpria pena.
Em julho, teve um hábeas-corpus negado pelo Superior Tribunal de Justiça e, na semana passada, a pena revista por desembargadores paulistas. Ninguém sabia que o réu não estava vivo.
Em São Paulo, a ineficiência da Justiça é mais gritante. Sozinho, o estado concentra quase metade dos processos de todo o país. O pior é que ainda hoje o número de ações que aguardam julgamento cresce a cada dia. Uma decisão definitiva demora de 10 a 15 anos em São Paulo.
No primeiro semestre de 2008, o número de sentenças foi 45% menor do que o de novos processos. Já são 18 milhões na fila. O Tribunal de Justiça diz que precisa de dinheiro para aumentar a agilidade. Quer que os recursos arrecadados com os processos, que hoje vão para o Executivo, sejam destinados ao Judiciário, mas não tem idéia do tempo necessário para amenizar o problema. “Nós não temos essa informação. São diversos fatores. A complexidade que envolve administrar o Poder Judiciário no estado de São Paulo o diferencia de qualquer outro estado da federação”, disse José Maria Câmara Junior, assessor da presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Justiça é ineficiente porque é mal-administrada. “O Poder Judiciário tem sido administrado por um desembargador, que é bacharel em ciências jurídicas. Não é um administrador profissional. O Poder Judiciário, a meu ver, está sendo administrado por departamento, sem uma visão do todo”, avalia o vice-presidente da OAB-SP, Márcia Regina Machado. Maria Lúcia Pizzotti Mendes, juíza do setor de conciliação do Fórum Cível João Mendes, considerado o maior do mundo, defende uma mudança na lei para diminuir o número de recursos e acelerar as decisões. Ela diz que os advogados também são responsáveis pela demora. “Muitas vezes o advogado vê no processo uma forma de ganhar dinheiro pelo fato de o processo durar muito. Será que o processo tendo menos duração, o cliente não ficaria mais satisfeito e os honorários dele não se manteriam e ele receberia mais rápido?”, indaga a juíza Maria Lúcia Pizzotti Mendes.
Há quatro anos, Maria Lúcia importou dos Estados Unidos uma alternativa para desafogar o Judiciário. São reuniões de conciliação com a participação de um mediador que evitam que conflitos cheguem à Justiça. Foi assim que as famílias das vítimas da cratera do metrô em São Paulo fecharam acordos sobre as indenizações em apenas dez meses. “Feito o acordo com a participação do mediador, do concicilador, o juiz homologa aquele acordo e não tem mais recurso. Ganha-se tempo e ganha-se satisfação”, acrescentas a juíza Maria Lúcia Pizzotti Mendes.
Quem precisa do auxílio da Defensoria Pública, que oferece atendimento jurídico gratuito, entra em outra fila. São 400 defensores para 40 milhões de habitantes em todo o estado. Por ano, os defensores públicos propõem 50 mil ações e participam de 180 mil audiências cíveis e criminais. Isso dá mais de 400 audiências por promotor.

* Matéria veiculada no Bom Dia Brasil - 09.10.08www.globo.com.br/bomdiabrasil

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O caldeirão do Machado

Sabe O Grito, a obra-prima de Edvard Munch? É meio assim que a gente se sente, com aquela cara de “oh, horror!”, quando nossos comunicólogos prosseguem cometendo erros de português escalafobéticos, enquanto pilotam seus programas de rádio e televisão. Recentemente, um veteraníssimo âncora maculou seu espaço vespertino no rádio saindo-se com um “escrevido” em vez de “escrito”. Gulp!

Errar é humano, mas persistir no erro é ignorância mesmo, se não da língua, do viés educativo dos meios de comunicação. Ou será que jornalistas e apresentadores, e principalmente suas respectivas equipes, têm vergonha de admitir a mancada? É vergonha ou presunção? A espera por uma errata ou mea-culpa no ar é sempre vã. Por que não é o profissional de comunicação seu próprio ombudsman, em vez de apostar que o ouvinte passará batido pela agressão cometida ao vernáculo? Na-na-ni-na-não. Conosco não, violão.

Poucos dias depois, quando a orelha ainda se recuperava daquela pedrada, uma jovem titular de um programa cheio de atitude na tevê aberta mandou essa em plena hora do Angelus, ao se referir ao filme de Bruno Barreto, Ônibus 174: “O seqüestro foi ‘cobrido’ com exagero pelas tevês, blá-blá-blagh!” E foi em frente embolando as coisas. Onde estariam o diretor, o produtor, o continuísta, o maquiador? Será que ninguém dá um toque? Não cremos.

Sendo assim, não dá para ficar noticiando e debatendo a péssima qualidade do ensino no País, enquanto a tevê e o rádio brasileiros não assumirem os erros daqueles que são a sua voz. A mídia impressa há muito faz isso, com a diferença de que a esmagadora maioria dos erros é de conteúdo, o que mostra, estatisticamente, o zelo pela língua escrita. Então, por que não cuidar da língua falada?

Para não ficar malhando a classe, vamos até ao presidente do STF, Gilmar Mendes, que disse em entrevista no início da semana passada: “É necessário fazer um ‘corrigidozinho’ no documento”. É mole? Será um regionalismo? É de endoidecer, doutor, e de deixar a gente, num primeiro momento, sem saber quem está certo.

Last but not least, um eminente e simpático intelectual, economista, diplomata, ex-embaixador, ex-ministro, em meio à enxurrada de análises televisivas na Segunda-Feira Negra, disse sobre a acachapante e planetária crise econômica: “O importante é o ‘desfazimento’ do cenário de desconfiança”. O queixo caiu mais do que o índice Dow Jones.

E justo quando se anuncia mais uma reacomodação da língua portuguesa, já que não dá para chamar de reforma ortográfica as subtrações propostas pelos doutos lingüistas (vamos sentir saudade do trema?). Machado de Assis faz cem anos de ausência, com erros desse tipo varando o éter. Como foram captados en passant, dão uma média das formas não registradas.

Sendo o assunto recorrente (não por nosso desejo), podem pensar que estamos repetindo pauta, e ainda corremos o risco de nos acharem uns pentelhos puristas, em vez de ouvintes acidentais. Deixemos Camões descansar e desta vez peçamos a Machado, o Bruxo do Cosme Velho, que mexa em seu caldeirão uma providencial sopa de letrinhas como só ele sabe.


*Cutucada escrita por Carlos Leonam e Ana Maria Badaró, da Carta Capital.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Canudinho


A lei seca já deu o que falar.
Vale tudo pra dar
o “jeitinho
brasileiro”
e não cair no
bafôme-
tro.
Semana passada li uma matéria que revelava que os jovens estão apostando em remédios usados para tratamento de alcoólatras. O objetivo. O mais simples possível: cortar o efeito do álcool.

Enquanto os jovens aprimoram suas idéias criativas, os fiscais de trânsito se divertem. Já viram tantas cenas que, às vezes, parece piada. É psicólogo que tenta usar dos truques da profissão para convencer os fiscais, é advogado dizendo que vai entrar com recurso no STF, é jornalista dizendo que vai fazer uma matéria mostrando o absurdo e abuso da fiscalização, é playboy tirando notas e notas de cem reais para “presentear” a família do fiscal... Ih, é coisa demais “rolando” nos bastidores das fiscalizações.

Se isso aconteceu de fato, eu não sei; mas que é, no mínimo, constrangedor...

Uma jovem estava em uma festa com amigos. Bebeu de tudo: vinho, teqüila, licor, cerveja, uísque e até coca-cola. Na hora de ir embora, a mesma confiança que todo bêbado tem. “Tô bem, nem tô bêbada. Só bebi um poquinho”...

Os cones da fiscalização ela não enxergou. O guarda, quase atropelou.

- A senhorita está com sintomas de embriaguez.
- Que isso, amigão. Tô com sono, só...
- Senhorita, por favor, quero que faça o teste do bafômetro!
- Ok. É de graça?
- Sim, por gentileza, desça do carro. Segure o canudinho e assopre...
- Assoprar? Acho que nunca fiz isso. O senhor não tem um canudinho pra chupar?

* Foto retirada do site http://www.fotopg.com.br/

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Papagaio de campanha

Santana acordou com uma bela ressaca. Saiu da cama, ainda descalça, de blusa e calcinha. Foi até a cozinha onde preparou a cafeteira. O cheiro do pó provocou arrepios. Estava com estômago “zoado” demais por causa das incontáveis “Cuba-libres” que tomou na noite anterior. A festa foi patrocinada por Bento 35, candidato a prefeito, com grandes chances de levar o trono.

Bento 35 fez uma campanha de deixar qualquer concorrente sem cabelo. O candidato se inspirou em algumas “lendas brasileiras”. Chegava na favela, onde Santana morava, jogando aviãozinho de dinheiro, igualzinho Sílvio Santos em seu programa semanal. Reunia as famílias da favela e apresentava um tanto de eletrodoméstico. “Quer pagar quanto?” E o povo levava DVD, televisão, ferro de passar, aparelho de som, tudo por menos de R$ 5,00. Nem nas casas “Bahia” se viu preço assim.

O homem parecia santo. Selecionou bem aqueles enfermos e pagou vários tratamentos médicos, deu remédio e salvação para muitos. Nem “padim Cícero” fez tantos milagres na favela quanto Bento 35. A criança não enxerga. “Bota óculos na cara do minino, gente!” O velho não anda. “Tá aqui sua bengala”. O homem estava confiante. E Santana feliz! Eram churrascos, jantares, bailes regados a Funk, showmícios. Showmício?! Mas isso não estava proibido? “A proibição é coisa do demú. A campanha é minha, faço como quiser”. Nem a tropa federal conseguiu dar limites à Bento 35.

Santana deu o primeiro gole no café, estava sentada na porta de sua casa. O sol era forte e, no fim do morro, alguns “muluques” jogavam bola. Olhou para camiseta e lembrou de Bento 35. “Graças a esse político filha da puta, consegui minha televisão e meu DVD. Tenho cesta básica que dá até pro fim do ano. Os remédios que ganhei vou vender fora do morro, já é uma grana extra...”

Às 16h, Santana chegou na zona eleitoral. A fila era pequena, apenas a “burocracia” impedia que o voto fosse mais rápido. Quando chegou a vez de Santana, calmamente, ela digitou os números de Aurélio que, nas pesquisas eleitorais, estava em segundo lugar. Foi pra casa e ligou a televisão, que ganhou de Bento 35. Lá pelas sete da noite, as emissoras começaram a divulgar os resultados preliminares. Aurélio estava na frente. Santana botou a roupa mais chique que tinha no guarda-roupa e foi para o barracão, onde os eleitores de Aurélio aguardavam “a sentença”.

“Venci! Porque o povo descobriu o meu valor, o povo viu que vou dar o melhor de mim e mudar a realidade. Essa gente precisa da diferença e ela sou eu...” Emocionado, Aurélio ainda tentava alongar a fala, ainda mais porque estava sendo entrevistado por um repórter de uma emissora de peso. Atrás dele e quase apoiando a cabeça em seu ombro estava Santana. Papagaio de pirata e... de campanha!

sábado, 4 de outubro de 2008

Cutucada da semana



Presidente Luiz Inácio Lula da Silva "cutucando" a seleção masculina de futebol.



*Frase retirada do site G1, matéria "Lula recebe medalhistas olímpicos de Pequim" - 1°.10.08.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Ditados populares


A dois dias das eleições municipais, vale reler o artigo do sociólogo e Presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, publicado no jornal Correio Braziliense, 25/09/08:

A uma semana das eleições, ninguém se arrisca a fazer prognósticos definitivos. Até quem se sentia livre para externar julgamentos categóricos sobre quem ia ganhar fica agora mais cauteloso.

Não é para menos. Nos últimos anos, especialmente em eleições municipais, o que parecia certo se revelou, muitas vezes, duvidoso. Vitórias de véspera se tornaram decepções e quem tinha ido dormir derrotado, acordou feliz.


São eleições mais voláteis, em que ondas de mudança podem aparecer a qualquer hora. É difícil antecipar quando vão ocorrer e que rumo vão tomar. Mas podem vir e vêm, mesmo quando menos as esperamos.

Algumas das eleições deste ano são, no entanto, previsíveis. Seus contornos básicos estão traçados faz tempo. A elas, alguns ditados da sabedoria popular parecem cair como uma luva.

“Pau que nasce torto, nunca se endireita.”
Existe algo mais adequado para descrever o que está se passando em São Paulo, na briga Alckmin vs. Kassab? É uma dessas coisas que todo mundo sabia que ia acontecer e que ia dar errado. Pois deu. Era evitável? Sim e não. Se Alckmin optasse por se suicidar politicamente, sucumbindo ao que queria Serra, poderia ter fugido ao confronto e nunca mais seria nada, além de acólito do atual governador. Se não, se quisesse ser mais que isso, tinha que se rebelar contra o papel de coadjuvante que Serra tinha reservado para ele. Qualquer que seja o resultado da eleição paulista, só de uma coisa estamos certos: os dois maiores líderes do PSDB no estado precisam voltar para o primeiro ano da escolinha da política.
“O peixe morre pela boca.”
Se o deputado ACM Neto pudesse embarcar em uma máquina do tempo, é 100% certo para qual data voltaria: o dia em que subiu à tribuna da Câmara para dizer que ia “dar um soco” em Lula. Raramente uma só frase teve o impacto que essa está tendo em uma eleição importante como a de Salvador. Transformou um favorito em um candidato comum, que luta agora para chegar ao segundo turno, no qual terá que se ver, outra vez, com ela. Já pediu desculpas (patéticas), mas o estrago foi feito.
“Quem tem padrinho, não morre pagão.”
Com sua peculiar franqueza, foi Marcio Lacerda quem relembrou esse ditado, um pouco esquecido, da tradição mineira. É bom para descrever o que aconteceu com sua candidatura, que tem tudo para se sair vencedora no primeiro turno em Belo Horizonte. Mas serve para vários outros favoritos. Eduardo Paes, no Rio, e João da Costa, em Recife, não são, também, casos de quem tem bons padrinhos?
Mais vale um pássaro na mão que dois voando.”
É o campeão deste ano. Admitindo que um ou outro resultado possa nos surpreender, os grandes vitoriosos são os prefeitos. Em alguns casos, vinham tão bem que os eleitores nem se perguntaram se outro candidato poderia ser melhor, como em Curitiba, Cuiabá, Campo Grande, Porto Velho, Goiânia, João Pessoa, Maceió e Vitória. Em Porto Alegre, temos uma situação exemplar. Perante duas (boas) opções de mudança, os eleitores mostram-se propensos a ficar com a que já têm em mãos.
“Galinha velha é que dá bom caldo.”
Brasil afora, muitas lideranças tradicionais estão mostrando que os eleitores, em sua maioria jovens, continuam a respeitá-las. Quem apostou que tinham passado de moda, se enganou. João Castelo, o último representante de algo que a maioria dos eleitores nem sabe mais o que foram, os “governadores biônicos”, é disso o maior exemplo. Tem tudo para ser prefeito de São Luis. E Íris Resende, que, aos 75, disputa sua nona eleição, com larga frente?

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

O acento sai e a crise fica

Diante da crise econômica que o mundo enfrenta, o Brasil “para” e admira a “ideia” do acordo assinado, nesta semana, que unifica a ortografia em oito países que falam a Língua Portuguesa. Fique “tranquilo”, segundo o presidente da República, nosso país é blindado e nada sofrerá com a crise econômica. Então, teremos tempo de pensar na crise lingüística. Certo?

Enquanto as bolsas despencam, nós, brasileiros, acabamos de ampliar o alfabeto, que passa a contar com mais três letrinhas: k, w, y. Para o presidente da República, isso realmente deve ser um lucro. Mais uma coisa que cresce no Brasil, além de sua popularidade...

Os acionistas do mundo inteiro não sabem se tiram ou deixam o dinheiro investido. Na nova ortografia, a regra é mais simples: tira tudo. Tira trema, tira acento, tira hífen... vai tirando até ficar da forma que o povo gosta, simples e sem complicações.

A novidade entra em vigor no próximo ano, mas os países terão até 2012 para se adaptar. Isso que é prazo bom! Já pensou fazer um empréstimo e pagar a primeira parcela depois de quatro anos? Nesse período de transição, ficam valendo tanto a ortografia atual quanto as novas regras. Assim, concursos e vestibulares deverão aceitar as duas formas de escrita — a atual e a nova. Viu aí a crise. E a criança que está sendo alfabetizada? Ela aprende as duas formas, mas depois só vai usar a nova ortografia?

É... desse jeito dá pra dizer que seremos “bilíngue”, não é mesmo? Sinceramente, sinto “enjoo” de ver esse “voos” do Brasil.

* O título foi uma inspiração do meu amigo de trabalho, Rodrigo Otávio.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Chove chuva...




As primeiras chuvas começaram a cair na capital do País. Silvia saiu às oito da noite da redação e olhou para o céu, negro e chamativo. As ruas estavam alagadas. Levou mais de quarenta minutos para chegar em casa. Tentou ligar a luz... Casa escura, água fria e chuva lá fora. O silêncio caiu bem, tinha tempo que não sabia o que era isso. Água gelada? Só no calor para matar a sede, mas naquela noite o banho foi assim... Acendeu velas aromatizadas e abriu um bom vinho. A bebida na taça formava uma imagem destorcida. O vermelho se misturava com o laranja do fogo.

Silvia foi para janela e ficou olhando os pingos grossos que caiam. Uns sobre os telhados, uns na grama, outros nem chegavam ao chão. E outros refrescavam seus braços encostados na janela. Ao longe, o barulho da buzina fez Silvia lembrar que, a cada chuva, Brasília pára. O trânsito fica caótico. Aumentam os acidentes, batidas bobas por causa daqueles que insistem em andar colados na traseira. Outras mais graves. Grave mesmo é a situação dos que moram em invasões na capital. Os barracos são arrastados pela chuva. Famílias perdem tudo, roupa, comidas, móveis e perdem a dignidade.

O governo sabe que as famílias estão lá. Por que esperar a chuva? Talvez, porque isso é notícia e notícia chama imprensa e imprensa é publicidade gratuita e espaço pra fazer “politicagem”. As famílias desabrigadas e molhadas tentam recuperar o que sobrou do que um dia chamaram de casa. O governo como consolo diz: eles serão levados para os abrigos da cidade.


Silvia deu um intenso gole no vinho. Admirou sua casa. Se sentiu em uma fortaleza. Colocou o pijama e foi dormir. Na madrugada, os gráficos rodavam o jornal. A foto da manchete: uma criança descalça, com a chupeta na boca, olhando para o brinquedo coberto de lama. “Chove chuva, chove sem parar...”

* Foto retirada do site www.fotosearch.com.br