segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Maquiagem especial

Rita sempre foi diferente das outras meninas. Não era nem um pouco previsível e os seus gostos não dava mesmo para comentar. A escolha da profissão foi um momento como ela: imprevisível. Quase matou a mãe do coração... “Se mamita tivesse morrido seria um incentivo pra colocar a mão na massa”. Rita decidiu ser maquiadora de defunto, como os populares gostam de dizer.

Talento ela tinha. Todos os mortos que pintava deixa com cara de vivo. “Parece até que dormiu maquiado”, comentavam nos velórios. Para ela, a profissão era como qualquer outra, a diferença era suportar o monólogo. “Gosta dessa sombra? E o batom pode ser vermelhinho, você tá muito pálida. Vai usar óculos?”

Os amigos de Rita tinham pavor de tocar na mão dela. “Quanto analfabetismo...” A moça era feliz e desenvolveu um dom: o de falar sozinha. Se o dom vem para o bem, é o que ninguém sabe responder. Depois de deixar um defunto prontinho para ser velado na manhã seguinte, Rita seguiu para um ponto de ônibus. No meio do caminho, tinha um assaltante. Quanto mais ela falava, mais o bandido pedia silêncio. “Ta doidona? Ta falando só?” Ela respondia: “tô, desenvolvi esse dom porque sou maquiadora de defunto.” Ele replicava: “tu vai virar defunto.”

A promessa se concretizou. O bandido desistiu de aguentar Rita falando só. Dois tiros! “Tá lá o corpo estendido no chão”. Choque para a família e amigos. Mas trágico mesmo foi o enterro de Rita. Sem base, sem pó compacto, sem sombra, sem batom, sem perguntas... Parece que a única maquiadora de defunto tinha dormido e se esqueceu de levantar pra trabalhar.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O começo


Ele publicitário. Eu jornalista. Nós... sentados em um restaurante, almoçando e curtindo nosso domingo. Ele me escutava... eu falava dos planos, das ideias. Falava da vontade de expor minha opinião de uma forma abusada. Falava da vontade de cutucar, ainda que não significasse nada para os outros, mas para mim seria importante. Talvez, a minha parte estaria sendo feita...

As horas passaram. Conversamos muito! Eu escutava, ele falava. Incentivava meus planos, dava dicas, sugestões para que minhas vontades virassem realidade. Do restaurante seguimos para o Jockey Club. Inesquecível! Enquanto os cavalos corriam e o publicitário ganhava as apostas, meus pensamentos corriam para fecundar a ideia... Quando voltasse para Brasília, criaria um blog. Foi assim a “concepção” do Cutucando.

O publicitário foi o primeiro a ver e ler as coisas do blog. Depois, tive que ampliar o acesso. Alguns amigos, “eternos professores”, leram a primeira bateria de texto. Ih, quantas edições! Minha irmã, advogada, também editava. Para ela, tudo era motivo de virar ação judicial contra mim. Enquanto os primeiros cutucadores se manifestavam, eu buscava especialização, inclusive, sobre “as leis da internet” (que descobrir não existir)...

28 de agosto de 2008. Cutucando o Ponto entrou no ar! E eu entrei em um mundo virtual de satisfação pessoal e profissional. Foram mais de 100 textos publicados neste primeiro ano, inúmeros seguidores e cutucadores. Foram amigos de longe conquistados (especial André e Gabi), foram novas descobertas, novas tendências, novos desafios. E nesse mundo de novidades, a mesma certeza: amo escrever. E é muito mais prazeroso quando não há edições, não há censura, não há estilo, não há regras. O que há é o desejo de dizer algo para alguém... Obrigada a todos!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Personagem


Um amigo me perguntou se colecionava algo. Eu disse: sim, histórias. E esta é mais uma delas. Já atuei como produtora de telejornal local. E sempre pautava os leilões do Detran – Departamento de Trânsito do DF. Carros e motos velhos são vendidos por um preço menor do que o de mercado, por causa da situação dos veículos. Nossa reportagem sempre mostrava o factual ou o serviço. Mas o meu desespero era maior, encontrar um personagem, uma pessoa, que comprou alguma coisa no leilão e explicar o motivo daquela conquista...


Dia desses fiquei de cara com o meu tão sonhado personagem. Conheço um grupo de músicos e, mais que o som, foi a criatividade que me deixou apaixonada por ele. Sentamos em um café da cidade e lá vem a história. O grupo curte um samba e em cada bar, café, esquina que ele para, vira atração. E vira motivo pro local cobrar couver... (que pagamos com orgulho)

De couver em couver, o grupo enche a poupança. Em um anúncio do leilão, os integrantes resolveram participar... Saíram de lá com uma “van”. O dinheiro aplicado foi suficiente para quitar as dívidas do veículo e transformá-lo. A “van” virou instrumento para uma novidade na cidade: o Samba móvel.

Atualmente, o grupo divulga em um e-mail, de contatos “selecionados”, dizendo onde estará estacionado o “Samba móvel”. E lá começa o som... “Foram me chamar, eu estou aqui o que é que há. Foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há. Eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho, mas eu vim de lá pequenininho, alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho...”

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sem nome

Afonso chegou em Brasília em 1983. Deixou pra trás apenas seus pais na cidade de Araxá, Minas Gerais. A capital do país sempre foi atrativa por causa das excelentes chances de bons empregos. E com ele não foi diferente. Em menos de 20 dias, Afonso já estava empregado. Começou servindo cafezinho no gabinete de um “amigo” senador mineiro. Depois de dois meses, Afonso já era uma espécie de assessor no Senado Federal...

Os pais de Afonso não se continham de tanto orgulho. Um menino, de infância difícil, sem muito estudo, hoje era assessor no Senado. Na verdade, nem Afonso entendia bem o cargo e a função dele. Imagina os pais! Mas o que importava mesmo era o contracheque e o sobrenome “Afonso, servidor do Senado”.

Em 2003, Afonso tinha um salário de dar inveja. Conseguiu comprar imóvel em Brasília e em Minas. Tinha carro. Já falava bonito e até frequentava faculdade. Claro, o “amigo” senador mineiro já tinha deixado o cargo... “Vão se os anéis e ficam se os dedos”. Afonso estava em outro gabinete, outra função... Ainda sem entender.
Anos depois, um dos maiores escândalos no Senado. Nomeações que nem mesmo os senadores conseguem explicar. O nome de Afonso estava em uma delas. Mas quem é Afonso diante dos escândalos? O gabinete, em que ele trabalha, não é de repercussão nacional, a função dele não é importante, o salário que ele recebe é apenas mais um gasto... Ou seja, Afonso é só mais um “sem nome” diante da imprensa, mas com a aposentadoria segura.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Mafalda


sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Seriados


Como já era esperado, na primeira sessão do Senado, nesta semana, não faltou o “bate-boca” oficial. Os senadores estão ficando cada vez melhores... Futuros atores! Profissão certa para quando precisarem renunciar. Essas discussões não passam de palavras soltas... Mas ganham vida porque a imprensa está lá!

Destes seriados “nacionais”, o que me choca é ver um ex-presidente da República que sofreu um impeachment, acusado de corrupção, sentado em uma das cadeiras do Senado. Tomando decisões ao lado de um ex-presidente do Senado que renunciou para não ter os direitos políticos cassados...

Ontem (quinta-feira), mais um seriado... Novamente, o ex-presidente da Casa. Sempre tem aqueles personagens principais... Oh, gente, não tem um roteiro melhor? O pior é que, no Brasil, esse tipo de seriado ainda dá Ibope...


* Foto Valter Campanato/Agência Brasil, retirada do site Terra

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Cada macaco no seu galho

Ultimamente, não temos outro assunto a não ser a família real Sarney... Na semana passada, nós (jornalistas) ficamos estarrecidos com a decisão do desembargador Dácio Vieira, do TJDFT, que proibiu o jornal O Estado de S. Paulo de publicar reportagens com informações sobre o filho de Sarney, envolvido na Operação Boi Barrica.

Alguns disseram censura! Outros direito... e outros nem entenderam o que aconteceu. A “confusão” pode ter começado quando o jornal publicou trechos de uma conversa telefônica “cotidiana” de família. A neta pedindo ao avô para arrumar emprego para o namorado. Nada demais, se não fosse o avô o presidente do Senado...

Antes que a dinamite estourasse, surgi o bombeiro (ops, desembargador) Dácio Vieira e, com uma liminar, impôs um fim provisório. Vieira determinou aplicação de multa de R$ 150 mil para cada reportagem publicada. A defesa do Jornal informou que vai recorrer da decisão. Para ela: “há um valor constitucional maior, que é o da liberdade de imprensa, principalmente quando esta liberdade se dá em benefício do interesse público”. Até que ponto a Justiça deve interferir na linha editorial de um veículo de Comunicação? Será que, depois dos retrocessos assistidos no primeiro semestre deste ano, viveremos uma nova fase: a da Censura Indireta?
Não vamos nos esquecer daquele velho ditado... Cada macaco no seu galho!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Exemplo do presidente



“Não é problema meu. Eu não votei para eleger Sarney presidente do Senado, nem votei para ele ser senador no Maranhão... Quem tem que decidir se ele continua presidente do Senado é o Senado, não sou eu.”

Essa frase foi dita pelo presidente da República, quando questionado sobre a permanência de Sarney no cargo. Para nós, brasileiros leigos, foi um ótimo incentivo. A gente nunca sabe mesmo em quem votou e muito menos qual é a função de cada um deles: prefeito, governador, senador, deputado, presidente... A única certeza que nós temos é: corrupção é o princípio básico para se governar o Brasil.

Há meses o Senado vem sendo bombardeado e perdendo a moralidade por escândalos e denúncias. A mídia faz questão de revelar um por um, de chamar a atenção... Mas este tipo de informação não é de interesse do povo... é interesse “privado”. São poucos os que realmente entendem o que está acontecendo no Senado.


É... em certos momentos é melhor mesmo seguir o exemplo do presidente da República: “não é problema meu!” Só uma dúvida: de quem, então, seria o problema?


** Ilustração retirada da internet.