Silêncio no corredor do hospital. O único barulho era do bip do rádio da repórter que aguardava em frente ao quarto 69. Dentro do quarto, estava ele – João de Santo Cristo, baleado. O primeiro tiro acertou o joelho. Ele agüentou a dor. O segundo foi no ombro. Também foi possível superar o sangue escorrendo. Mas o terceiro acertou o saco escrotal de João de Santo Cristo, que na hora desmaiou. Estava acordando agora, às 8h30. Sua boca estava seca e a dor ainda o incomodava.
Do lado de fora, a repórter continuava escutando o editor. “Você vai entrar ao vivo no segundo bloco. Vê se consegue falar logo com ele. Eu preciso das informações para fechar o link”. Ao lado dela, o advogado de João de Santo Cristo. Ambos esperavam o encontro com o homem baleado. Uma terceira pessoa chegou. Dr. Wilson. O médico que iria cuidar e examinar João de Santo Cristo. Ele entrou. Examinou, conversou e em palavras complexas disse “você ficou brocha”.
O advogado entrou depois do Dr. Wilson. João de Santo Cristo estava sem cor. O que acabou de escutar doeu tão profundamente quanto o tiro no saco. Sem prolongar o assunto e sem dar chances para o que João de Santo Cristo dizia, o advogado resumiu: se você falar que é culpado, a pena pode ser menor. Por fim, a repórter entrou. João de Cristo estava transparente. Já nem sabia mais o que dizer. Brocha e condenado por algo que jurava não ter feito. Mesmo assim, respirou fundo e contou o que lembrava da noite anterior.
12h50. Jornal no ar. “Boa tarde, Maia. João de Santo Cristo deu entrada de madrugada em um hospital da cidade. Ele está baleado e sob escolta de um policial. João de Santo Cristo atirou contra uma amiga e o ex-namorado dela ontem à noite. Os três estavam em uma casa no Guará. Os vizinhos escutaram os tiros e chamaram a polícia. Quando o socorro chegou na casa, encontraram Lúcia morta. Voltamos ao estúdio!”
Do lado de fora, a repórter continuava escutando o editor. “Você vai entrar ao vivo no segundo bloco. Vê se consegue falar logo com ele. Eu preciso das informações para fechar o link”. Ao lado dela, o advogado de João de Santo Cristo. Ambos esperavam o encontro com o homem baleado. Uma terceira pessoa chegou. Dr. Wilson. O médico que iria cuidar e examinar João de Santo Cristo. Ele entrou. Examinou, conversou e em palavras complexas disse “você ficou brocha”.
O advogado entrou depois do Dr. Wilson. João de Santo Cristo estava sem cor. O que acabou de escutar doeu tão profundamente quanto o tiro no saco. Sem prolongar o assunto e sem dar chances para o que João de Santo Cristo dizia, o advogado resumiu: se você falar que é culpado, a pena pode ser menor. Por fim, a repórter entrou. João de Cristo estava transparente. Já nem sabia mais o que dizer. Brocha e condenado por algo que jurava não ter feito. Mesmo assim, respirou fundo e contou o que lembrava da noite anterior.
12h50. Jornal no ar. “Boa tarde, Maia. João de Santo Cristo deu entrada de madrugada em um hospital da cidade. Ele está baleado e sob escolta de um policial. João de Santo Cristo atirou contra uma amiga e o ex-namorado dela ontem à noite. Os três estavam em uma casa no Guará. Os vizinhos escutaram os tiros e chamaram a polícia. Quando o socorro chegou na casa, encontraram Lúcia morta. Voltamos ao estúdio!”
Dois meses depois... A repórter estava de novo em frente ao quarto 69. O advogado procurava uma casa no Riacho Fundo. Lá deveria morar um cliente que o devia R$ 69. E João de Santo Cristo estava fazendo um 69 com sua namorada. A condenação de nenhum deles, do médico, do advogado e da repórter, não foi verdadeira. Brocha ele não ficou. Culpado ele não foi. Muito menos atirou contra Lúcia. Naquela noite, João de Santo Cristo conversava com Lúcia quando o ex-namorado dela chegou atirando. Ele tentou segurar o braço dele. João de Santo Cristo nem teve tempo de perceber que o primeiro tiro pegou no pescoço da amiga. Os outros três, ele preferia não lembrar.
5 comentários:
Ei, a história aconteceu às 2h, na Ceilândia, em frente ao Lote 14, não?
E o Jeremias, traficante de renome, que fim teve?
:)
Gostei do tom semi-escatológico chocante. Adoro quando as coisas fogem do lugar comum.
Beijo
Fazia tempo que não via alguém usar o termo "saco escrotal". Por incrível que pareca, expressões como essa ou mesmo "brocha" fazem um texto ganhar vida. E pior, não são vistas em nossos periódicos.
Hoje em dia é difícil fugir do padrão, mas pequenas modificações ou ousadias podem transformar um texto, vídeo ou foto em algo interessante.
Aproveito e deixo aqui a dica do jornal amazonense www.maskate.com.br, que não tem vergonha de usar a lingua do povão em suas matérias.
Às vezes é necessário um código que as pessoas entendam.
Abraços!
Amigos,
Desculpem-me a “leiguice”... mas é a segunda vez que veja esse recadinho aqui “comentário excluído pelo autor”. Imagino que seja o autor que ia escrever a mensagem. Não vou apagar nada! Como disse, Cutucando o ponto é livre de edições e censuras!
Obrigada pelas visitas e e-mails. Estou esperando sua cutucada!!
B-jos
Marina A.
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