sexta-feira, 13 de março de 2009

Salve-se, quem conseguir

Já estamos acostumados a abrir os jornais e ver notícias “estranhas” em relação aos fatos que acontecem em hospitais públicos do Brasil. Há duas semanas, estamos acompanhando a “confusão” da mulher que estava grávida de gêmeos; mas na hora de voltar para casa, levava apenas um bebê – que a própria mãe desconfia não ser o dela (e olha que intuição de mãe é forte). Outro caso que chamou atenção na semana foi o da paciente que teve o lado do cérebro operado por engano. E, claro, acabou morrendo!

Casos assim são mais comuns do que a gente imagina. Alguns são tão “bizarros” que conquistam espaço na imprensa. Mas tem aqueles mais “leves”, por exemplo, a paciente quebra a perna direita. A esquerda que é engessada. Uma mulher internada precisa tirar o apêndice, mas o que ela perde é um rim. As mortes por erro médico em hospitais públicos estão no topo dos principais problemas do nosso Sistema Único de Saúde. E se não há erro médico, há falta de leitos, de remédios, de aparelhos, de ambulâncias, de médicos, de enfermeiros... Elementos que podem fazer a diferença entre a vida e a morte.

O discurso do Ministério da Saúde e praticamente de todos os secretários de Saúde é sempre o mesmo: não está faltando nada! O SUS tem suas dificuldades, mas nada que os heróis da saúde não possam melhorar. Será que o ministro da Saúde já precisou ser atendido em um posto? E será que já precisou de um leito público? Passou a madrugada na fila para conseguir atendimento?
Salve-se quem conseguir, porque quando o assunto é saúde pública não há heróis! O que me deixa mais chocada é que, enquanto os hospitais públicos passam por esse caos, funcionários do Senado recebem horas extras por trabalhos feitos em pleno recesso de janeiro. É muita piada com a cara do brasileiro! Mas, afinal de contas... “Pimenta nos olhos do outro é colírio”.

2 comentários:

Rodrigo Otávio disse...

Pois é Marina. A saúde moral da política brasileira escoa diretamente para o SUS, ou seja, um câncer malígnico. E a cada dia parece estar pior. A relação é direta. Quanto mais casos de corrupção, mais faltam remédios, estrutura e atendimento decente nos hospitais. Os médicos que acumulam dupla jornada de trabalho em clínicas públicas e privadas também podem comprometer o desempenho nas atividades clínicas. Enquanto os responsáveis pelo setor não tomam um antibiótico ético para resolver esses problemas gritantes, assistimos os bizarros capítulos desse filme de terror que é o Sistema Único de Saúde brasileiro. O seu texto foi postado em um dia muito peculiar para a saúde no Brasil. Sexta-feira 13. "Salve-se, que conseguir".

Marina Amaral disse...

Mais uma denúncia do caos:

Em agosto de 2005, os funcionários do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) receberam da Secretaria de Saúde uniformes novinhos. Quatro anos depois, os macacões e as botas continuam os mesmos. Nada foi trocado pela secretaria e nenhuma ajuda de custo foi dada aos mais de mil servidores.

Mais do que uniformes, eles são também equipamentos de proteção com detalhes definidos pelo Ministério da Saúde. Um técnico de enfermagem, que pediu para não ser identificado, está com o macacão desbotado. A faixa refletiva também está desgastada.

“Você tem que estar com uniforme que tem aquelas faixas refletivas, para se proteger até de um outro acidente e para você não virar vítima. Mas não tem. Você trabalha com a camiseta. Além dos fluidos, sangue e pus, você ainda está exposto a um acidente”, alerta.

Um uniforme novo custa, em média, R$ 500. Na loja em que os uniformes são vendidos é feito um controle. No mês passado, foram fabricados 15 macacões.

Antes do Samu ser inaugurado no DF, foi aberto um processo de licitação para a compra de uniformes, mas a empresa vencedora não entregou o material. Em fevereiro deste ano, um novo pedido de compra foi feito. Ainda não há previsão de entrega dos macacões e das botas para os servidores.

“Esperamos que agora, com uma nova gestão, essa aquisição seja realizada. É fundamental ter um uniforme novo”, afirma o coordenador do Samu, Rodrigo Caselli.

A conservação dos uniformes e das ambulâncias do Samu é um compromisso assumido pelo GDF para o repasse de recursos do Ministério da Saúde, que garante parte do serviço.

Fred Ferreira / Salvatore Casella / Luis Gonzaga Pinto
*Matéria veiculada no DFTV, primeira edição, 13.03.09