segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A arte do improviso

Depois de um longo dia de trabalho, Angélica chegou em casa e se preparou para o último ensaio de sua escola de samba. Angélica modelou os cachos, colocou o uniforme da escola e uma saia bem curta, que dava movimento ao quadril... Seguiu para o galpão. Neste ano, a responsabilidade de Angélica aumentou. Ela vai sair a frente da bateria, uma rainha.

Antes do ensaio, Angélica passou os olhos nas fantasias, ainda espalhadas pelo chão e cadeiras... O galpão rodava junto com seu olhar. Reparou nos detalhes das roupas e começou a relembrar o desafio de colocar uma comunidade, por menor que seja, para desfilar. As pessoas que estavam lá eram as que amavam o que faziam, amavam a comunidade e tinham o mesmo sonho: sambar, fazer bonito e vencer.

A rainha da bateria cresceu com o samba... A avó dela foi a pioneira na comunidade, depois foram os pais, os tios, os irmãos. Todos antes de aprenderem a sambar, aprenderam a arte do improviso. O incentivo do governo é pouco e a prestação é paga com atraso. Para montar o enredo, os carros alegóricos, as fantasias, a comunidade precisa mesmo é da imaginação e da criatividade...

E isso não faltou para a comunidade de Angélica. Na avenida, a escola iria apresentar muita coisa reciclada, corpos pintados, fantasias inovadoras com garrafas petis e sacolas plásticas. Quando o repique tocou, Angélica viu um repórter se aproximar... Ele estava ali fazendo o mesmo trabalho de sempre e a mesma ofensa: “Todo ano é a mesma coisa, né?” perguntou o repórter. Angélica escutou o surdo, respirou e respondeu: “Quando os jornais terão repórteres sensíveis para entender que carnaval não é apenas uma festa, é uma história de vida de uma comunidade?”

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