quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Triplo

Nos últimos dias, um triplo assassinato, em Brasília, roubou a cena e conseguiu despachar a gripe suína do noticiário. Ninguém aguentava mais a tal gripe e os especialistas com suas recomendações. O triplo assassinato é mais atraente... é uma novela, sabe... São capítulos. Há mais de 15 dias, os brasilienses acompanham passo a passo as “diligências” (repórter adora essa palavrinha) da polícia e as especulações dos meios de Comunicação para tentar desvendar o crime, que parece “perfeito”.

No fim de agosto, um casal de advogados e sua empregada doméstica foram mortos brutalmente com mais de 70 facadas em um apartamento no Plano Piloto. Os corpos só foram encontrados três dias depois. Por quem? Pela neta do casal, que trabalha no escritório dos advogados... No dia, ela estava com seu namorado, perito da Polícia Federal.

Coisa de família! É a polícia também diz isso: “nossa linha de investigação suspeita o envolvimento de algum familiar ou mesmo alguém muito próximo à família”. Não cabe nenhuma avaliação sobre a investigação da polícia, mas vale alguns questionamentos: em que outro caso a polícia precisou fazer mais de 10 perícias para tentar achar algo? Nem no caso Nardoni... Não seria coincidência um prédio, em pleno Plano Piloto, não ter câmeras de segurança? Tá, tem mas não filma. O que adianta? O assassino não saberia disso? Se a polícia tem a linha de investigação, por que fica pedindo ajuda de testemunhas? Ainda faltam provas? Ou a verdade é que a polícia está mais perdida que cego em tiroteio...
Não, não teremos as respostas. Até porque, especulação dá Ibope. Eita, guerra local... Cada veículo de Comunicação tentando andar com a melancia na cabeça. Bom para o telespectador brasiliense que tem uma novela exclusiva. Eu nem vejo “Viver a vida”, “Bela a feia”, “Paraíso”; mas te confesso que não perco um capítulo do “Triplo assassinato”...

Um comentário:

Rodrigo Otávio disse...

Marina, dias desses fui fazer um exame cardiológico de rotina em um hospital aqui de Brasília, e a médica, muito simpática, descobriu que eu era jornalista. Deitei, fiquei cheio de aparelhos e começamos a conversar sobre o triplo assassinato. A mulher me fazia milhões de perguntas sobre o crime. Ela mora na mesma quadra onde ocorreu a tragédia. Disse que estaca com medo. O exame não durava nem um minuto. Mas fiquei deitado mais de meia hora, pensando que estava passando por um procedimento médico. A mulher dizia que se apavorava com a forma que a notícia era passada pela imprensa. Que as chamadas faltavam ter a música do Plantão da Globo. Só aí, percebi que estava num divã, onde eu dava o atendimento psicológico. A mulher, médica, estava de fato assustada. Poderia ser com ela, poderia ser um outro crime, com uma importância menor, igual ou superior, mas, pelo andar da carroagem, também ficará sem solução. O medo dela é explicável. Basta ver o número de conclusões de crimes aqui no DF. Lembra do caso da índia xavante que foi violentada e morreu na Casa de Apoio à Saúde Indígena do DF. Até hoje, ninguém soube o que de fato aconteceu. As suítes vão morrendo, como um fade in fade out, e dão lugar a outros casos, como o do crime da 113 sul. Este é o ciclo da imprensa e da polícia, que se mistura quando o assunto é "uma bo diligência".